Mercado de segunda mão pela Fashinnovation

“Fashinnovation ultrapassa fronteiras e amplia tópicos, incluindo objetivos de desenvolvimento sustentável, impacto social, diversidade e inclusão, empreendedorismo, conectividade e novas tecnologias, todos vistos através das lentes da inovação.”

A jornalista e head de conteúdo da plataforma Fashinnovation, Júlia Vilaça, apresenta o artigo “Mercado de segunda mão: futuro da indústria da moda ou tendência passageira?”

Mercado de segunda mão: futuro da indústria da moda ou tendência passageira?

O mercado de segunda mão tem crescido de forma evidente nos últimos anos. A prática de comprar peças já usadas tem se mostrado uma tendência não somente no Brasil, mas no mundo.

Entretanto, será que isso é uma tendência que veio para ficar ou será que em breve vamos ver, novamente, o esvaziamento das lojas de peças de segunda mão?

Para entender melhor esse fenômeno e sua crescente, é importante analisar os dados tangíveis e como o mercado vem se comportando frente a essa nova realidade.

Peças de Segunda Mão: o aquecimento de uma economia circular

De forma simplificada, a prática de vender e comprar peças que uma pessoa não mais utiliza e possibilitar com que outras ressignifiquem aqueles ítens contribui para o fomento de uma economia circular na sociedade.

Este conceito surgiu em 1989 em um artigo dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Na época, eles discutiram como a economia tradicional não levava a reciclagem em conta. Sendo assim, o meio ambiente acabava ficando em segundo plano sendo tratado exclusivamente como fonte de matérias primas e, posteriormente, como um simples reservatório de resíduos, ou seja, de depósito de lixo.

Portanto, em oposição à economia tradicional e linear, cujo lema era “extrair, produzir e descartar”, surgiu o conceito de economia circular, inspirado na lógica cíclica da natureza.

Por mais que o conceito de economia circular seja relativamente novo, o resale, ou em bom português, a venda de peças de segunda mão, não é uma prática nova. Muito pelo contrário. Esse tipo de atividade existe desde antes mesmo da invenção da moeda.

Nos famosos escambos, as pessoas trocavam produtos alimentícios e de necessidade básica entre si. Entretanto, as trocas não se limitavam por aí. Desfazer de uma peça ou material que não era mais necessário também era algo comum e bastante praticado. Afinal, por que manter uma peça parada se ela pode estar sendo utilizada nas mãos de outra pessoa? E, mais ainda, por que não ganhar um dinheiro com uma peça que está parada no armário?

O Forte Retorno do Mercado de Segunda Mão

A prática que já foi muito forte nos anos 1980 e 1990 voltou com tudo.

Em outubro do ano passado, a Vogue Brasil publicou uma notícia discutindo o aumento nas vendas das peças de segunda mão durante a pandemia. Segundo a reportagem, por mais que a economia circular já fosse uma realidade em ascensão antes de 2020, o período pandêmico fez com que essa prática se consolidasse. Hoje, quase um ano após a publicação da matéria, as estimativas têm se mostrado vigorosas.

Como afirma Jordana Guimarães, co-fundadora da Fashinnovation – plataforma global de moda e inovação –, “o resale é com certeza uma tendência que está aqui não só pra ficar, mas também que vai continuar a crescer. Isso é um jeito de ser mais sustentável sem ter que tocar em muitos aspectos da cadeia de produção”.

De acordo com o 2021 Resale Report, da ThredUp, há a estimativa de que o mercado alcance a marca dos US $64 bilhões nos próximos cinco anos – um crescimento de 500%.

A Geração Z é o grupo que mais vem praticando a compra e venda de produtos de segunda mão. E, se nos próximos anos cada vez mais jovens vão alcançar liberdade econômica e poder de aquisição, essa tendência se mostra realmente promissora.

A aliança entre Resale e Sustentabilidade

A compra e venda de peças de segunda mão se dá por uma série de motivos. A paixão por peças vintage e os preços mais baratos com certeza são fortes atrativos. Entretanto, há um ponto de suma importância e que precisa ser mencionado: a sustentabilidade por trás da prática.

A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Ela é responsável por 8% da emissão de gás carbônico na atmosfera, ficando atrás apenas do setor petrolífero. O poliéster, uma das fibras mais utilizadas no mercado, é responsável pela emissão anual de 32 das 57 milhões de toneladas globais. E os dados não param por aí.

A quantidade de descarte gerado pelo setor é assustadora. O lixo têxtil contribui fortemente para a poluição dos rios, mares e pela superlotação dos aterros sanitários – que, por sua vez, acaba incinerando grande parte do material descartado, gerando, assim, mais poluição.

Na compra de uma peça de segunda mão há, na verdade, a ressignificação de peças e a possibilidade de circulação de produtos que, agora, podem ser mais aproveitados. Ou seja, nessa relação, não há a criação de novos produtos, ou seja, diminuição da emissão de gás carbônico e, obviamente, da criação de resíduos. Afinal, isso evita com que essas peças sejam descartadas.

É claro que a questão do resale é muito mais complexa. Precisa-se de peças de qualidade para fazer com que a compra e venda sejam viabilizadas. Entretanto, a preocupação com a eco-responsabilidade atua também nessa área uma vez que uma parte cada vez maior dos consumidores estão se mostrando comprometidos com a qualidade das peças e transparência das marcas.

A Tecnologia no Mercado de Segunda Mão

A variedade de aplicativos e sites que vendem peças de segunda mão hoje é vasta. É possível encontrar roupas, mas também acessórios e até peças decorativas em lojas digitais que reúnem diversas marcas em um único lugar. Em outras palavras, estamos falando de um marketplace de resale.

Entretanto, estão enganados aqueles que pensam que o mercado de segunda mão é movimentado exclusivamente pelos brechós. Hoje, existem muitas plataformas e ferramentas que permitem com que as próprias marcas revendam suas peças.

De grifes de luxo à etiquetas com preços mais acessíveis, aos poucos, os consumidores estão encontrando no próprio site dessas marcas um setor de peças já utilizadas. Aqueles que querem desapegar de um produto, podem entregá-lo à marca e ganhar desconto na próxima compra. Enquanto que os fiéis compradores de resale têm a possibilidade de adquirir os itens diretamente no site da marca.

Seja indo em um dos icônicos brechós paulistas ou fazendo compras em sites e aplicativos, o mercado de segunda mão tem se mostrado vigoroso e com cada vez mais adeptos. A junção da conscientização dos consumidores com a necessidade de mudança nas formas de produção e consumo atuais são grandes aliadas no fomento do resale. Portanto, seja na compra de uma Louis Vuitton dos anos 2000 ou de uma calça jeans vintage encontrada por R$ 25, esse mercado tem unido práticas eco-conscientes com preços mais acessíveis e provado que sua ascensão e sucesso vieram com força para ficar.

Por Júlia Vilaça, Jornalista e Head de Conteúdo da Fashinnovation

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