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A Amazônia e a Moda

Em prol da proteção da Amazônia, um dos patrimônios naturais mais valiosos e maior reserva natural do planeta, marcas brasileiras desenvolvem ações que empoderam comunidades ribeirinhas, e usam matérias-primas ecológicas para renovar a flora e a fauna locais. O Brasil tem moda sustentável e com identidade.

Sim, somos poluidores. O mercado da moda tem grandes desafios pela frente. Não à toa, diversos movimentos e iniciativas se espalham pelo mundo. Para muitas marcas ainda não é possível ser 100% sustentável. São muitos os fatores para que toda a cadeia se reorganize, mas é imprescindível conhecer as ferramentas e olhar para as transformações que estão em curso. 

O futuro da indústria depende de um olhar mais apurado para reavaliar os objetivos, adaptar a gestão e buscar estratégias para atender não somente as demandas dos clientes, mas também rever os processos de trabalho e a cadeia como um todo. 

Amazônia Made in Brasil 

Ser sustentável não é opcional. Agora os consumidores querem transparência e a pandemia acelerou as tendências que estavam em curso antes da crise. 

“Nós temos conhecimento sobre os problemas e desafios do bioma, mas muito mais sobre as ferramentas que precisamos para vencê-los e quais os resultados que devemos atingir. Nosso trabalho tem se pautado na proposição de uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável do bioma. O Dia da Amazônia é um dia de celebração” ressalta Maria Cecília Wey de Brito, secretária geral do WWF-Brasil

Dia 05 de setembro foi a data escolhida para promover a conscientização da população sobre a necessidade de preservar a maior floresta tropical do mundo. 

Osklen, Vert, e os processos sustentáveis na Amazônia

Osklen 

A Osklen, marca brasileira comprometida com a sustentabilidade, encontrou um uso consciente para a pele do peixe Pirarucu de fazendas sustentáveis do estado de Rondônia, na Amazônia, antes descartada e poluente.

“O Pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do planeta. Nativo da Amazônia, ele é peça importante do ecossistema que habita, além de ser fonte de renda para as comunidades ribeirinhas que vivem da pesca não predatória.”

O processo protege a espécie, equilibra a fonte de alimentos e economia da região, e contribui para a preservação da Floresta Amazônica. 

“Se comparado com a criação de gado, esse sistema emite muito menos gás carbônico e ajuda no reflorestamento da região. Criadores de Pirarucu atingem uma produtividade 40% maior do que criadores de gado, usando o mesmo pedaço de terra.”

Ações simultâneas nos unem na busca de soluções 

Em setembro de 2021 acontece o Hub-E e a Pre-COP Conference, onde Oskar Metsavaht, fundador da Osklen, apresenta workshops para inspirar, envolver e promover uma mudança de mentalidade sobre a sustentabilidade. 

O Hub-E representa os conceitos 6E’s do Instituto-E: terra, meio ambiente, energia, educação, capacitação e economia. Leia mais aqui.  

Vert 

A Vert, marca de calçados de design clean e urbano, apresenta fabricação e matérias-primas 100% brasileiras, sempre buscando um impacto positivo, social e ambiental.

Desde 2005, a marca utilizou cerca de 120 toneladas de algodão orgânico e 75 toneladas de borracha selvagem da Amazônia. Nesse período 160 pessoas encontraram uma oportunidade de emprego nas cooperativas e foram criados mais 30 empregos diretos ao redor do mundo.

“A VERT aposta no comércio justo como uma ferramenta essencial da economia verde.” 

Cada par de tênis vendido gera uma média de R$1,10 aos produtores de algodão do Semiárido Nordestino e R$1,00 aos seringueiros do Acre. Como incentivo, eles pagam mais R$2,50 por quilo de algodão que as associações usam para melhorar as condições de trabalho.

“Não acreditamos numa visão romântica da ecologia. O nosso caminho é a valorização econômica. Na VERT, isso passa por um trabalho social: os seringueiros e os produtores de algodão recebem um valor diferenciado por preservar as florestas e as terras”, explica François-Ghislain Morillion, co-fundador da marca.

A Vert desenvolve a sola de borracha nativa da Amazônia, da cooperativa Chico Mendes, que em parceria com o WWF e o Governo do Acre é responsável pela geração de renda de 90 famílias de seringueiros que extraem a matéria-prima do coração da Floresta. 

O processo apresenta a tecnologia FDL (Folha Defumada Líquida), desenvolvida na Universidade de Brasília pelo professor Floriano Pastore, que transforma o látex em folhas de borracha semi-acabadas, sem nenhuma fase industrial intermediária, com maior valor de revenda.

“Para as solas dos nossos tênis, compramos a borracha diretamente de três associações de seringueiros na Amazônia, pagando um preço diferenciado pelo látex. Esse preço justo valoriza o trabalho do seringueiro, e assim ajuda na luta contra o desmatamento.”

Matérias-primas Veganas

A transparência é um compromisso da marca e é possível encontrar informações sobre toda sua cadeia de produção e gestão, inclusive as etapas em que eles ainda não conseguiram uma solução 100% sustentável na produção. 

“Nossa camurça sintética é feita no Brasil, em uma fábrica que monitora seu uso em água e produtos químicos. Apesar disso, a camurça sintética continua à base de petróleo e o nosso objetivo é encontrar alternativas 100% biológicas.”

No site da marca, eles explicam os materiais e ainda apresentam os obstáculos e dificuldades encontradas: “C.W.L é um material alternativo ao couro que usamos desde janeiro de 2019 no modelo Camp. É de origem biológica e composto de milho. Hoje, é difícil rastrear o setor produtivo do milho, onde a larga escala acaba dificultando a transparência da indústria de bio-plásticos. Procuramos soluções para acompanhar toda cadeia de resíduos da agricultura orgânica.”

É importante destacar também que a Vert Shoes (Veja Shoes fora do Brasil), é uma empresa em processo de certificação pelo BCorp. O Selo B é uma certificação que avalia o impacto global das empresas, “Uma comunidade global de líderes que usam os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta.” (Leia mais sobre o Selo B) Sim, somos poluidores. Mas a transformação está em curso, e a indústria da moda não vai ficar para trás. 

“Uma comunidade global de líderes que usam os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta”, Sistema B Brasil.

O Movimento B é uma possibilidade de futuro para as empresas que acreditam em uma nova economia e tem como objetivo comum alcançar um capitalismo mais consciente e responsável. 

Uma pesquisa da McKinsey & Company destacou a economia circular e a sustentabilidade social, ambiental e econômica como o futuro da moda.

“Os consumidores vão esperar cada vez mais – e exigir – uma ênfase na sustentabilidade das marcas de moda. Modelos de negócios circulares não serão opcionais”.

“Notavelmente, empresas com foco ambiental e social são consideradas por grupos mais jovens como melhores empregadores, e a grande maioria diz que seria mais leal a empresas alinhadas com esses valores”, Business of Fashion.

“Acho que o fato de a marca pertencer à Kering, e ter a Kering expressando compromisso com a sustentabilidade e os valores como um grupo, faz a diferença. Você trabalha em um ambiente onde isso é importante”, Cédric Charbit, presidente-executivo da Balenciaga.

A Certificação como Empresa B é administrada pelos Analistas de Padrões do B Lab, entidade sem fins lucrativos, fundada em 2006 nos Estados Unidos. Os padrões para a Certificação B são supervisionados pelo Conselho Consultivo de Padrões independente do B Lab. O Conselho de Governança Global supervisiona o crescimento global do B Lab e do Movimento B. E, atualmente, o Brasil apresenta 202 empresas certificadas, duas associadas da ABEST, Flávia Aranha e Movin; 705 empresas LATAM; e 3843 empresas no mundo.

“Desde 2016 somos uma empresa certificada pelo Sistema B, uma iniciativa atuante em mais de 50 países que consolida a transparência nos processos de produção e as preocupações com os impactos socioambientais, equiparando-os ao lucro nas prioridades da gestão de uma empresa”, Flávia Aranha.

“Somos a primeira empresa de moda brasileira a receber o certificado de empresa b, o b corp certification, que reconhece e valida novos modelos organizacionais que encorajam o uso do poder dos negócios para resolver problemas sociais e ambientais, sempre em sintonia com o conceito da economia solidária”, Movin.

A Avaliação de Impacto B (BIA), ferramenta gratuita, on-line e exclusiva analisa e acompanha a performance da empresa pelo desempenho e impacto positivo reconhecidos pelo mercado nas cinco áreas: Governança, Trabalhadores, Clientes, Comunidade e Meio Ambiente.

“Nossa certificação visa toda a empresa, não apenas o produto. Analisa como você trata seus trabalhadores, sua comunidade e o meio ambiente”, afirma Katie Kerr, diretora de comunicações do B Lab.

As empresas certificadas pelo Sistema B apresentam seu propósito de impacto no centro do seu modelo de negócio, e promovem os lucros e o crescimento como uma força para o bem: geração do triplo impacto positivo para seus funcionários, comunidades e meio ambiente.

“As Empresas B são um novo tipo de negócio que equilibra propósito e lucro, considerando o impacto de suas decisões em seus trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente. São empresas que buscam ser melhor PARA o mundo e não apenas as melhores DO mundo”, Sistema B Brasil.

A certificação para uma Empresa B apresenta 4 atributos essenciais: ter um propósito forte – todas as suas ações são motivadas e comprometidas com a geração de impacto positivo para a sociedade e o meio ambiente; incorporar as Cláusulas B – a empresa reforça e protege a sua missão de se comprometer com responsabilidades sociais e ambientais em toda a sua operação; ser comprometida com uma melhora contínua – as Empresas B estão comprometidas a operar com altos padrões de transparência, além de aprimorar continuamente a sua gestão e mensuração de impacto; e atuar com interdependência – o poder da interdependência e colaboração mútua entre as empresas para o desenvolvimento de uma economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa.

“Mais que uma certificação, uma prova de comprometimento”, Sistema B Brasil.

Transparência Vert 

“Vert é brasileira no ‘look’, vai além do tênis, olha como é feito.”

“Como são feitos os tênis da Vert? Quanto recebem os trabalhadores? Quanto ganha um produtor de algodão orgânico? Quais são os produtos químicos usados ​​em um par de Vert? A transparência da Vert se resume a cerca de dez perguntas.”

Desde 2004, a Vert define antecipadamente o preço do algodão orgânico e agroecológico, em acordo com associações de produtores do Brasil e do Peru.

Os contratos garantem aos produtores uma maior segurança financeira pelo preço descorrelatado do mercado e das suas flutuações. “Essa segurança é ainda mais forte porque eles sabem quanto vão ganhar com o algodão antes mesmo de plantá-lo.”

A Vert investe em pesquisa e novas tecnologias, e apresenta comércio justo e matérias-primas orgânicas mais equitativas economicamente para todas as partes envolvidas na cadeia produtiva. 

Todo o estoque da loja parisiense e e-shop é administrado pelos funcionários da ASF, Atelier Sans Frontières, responsável ​​por receber os tênis embarcados do Brasil, organizar a armazenagem, preparar e despachar os pedidos. 

O Atelier Sans Frontières promove a inserção profissional das pessoas excluídas do mercado de trabalho, e oferece um emprego remunerado adequado e um apoio social personalizado para desenvolver um plano de carreira.

Comércio Justo 

Desde 2004, a marca aplica os princípios do comércio justo: trabalha diretamente com os produtores e elimina o intermediário.

“Nós pré-financiamos colheitas em até 40%. Ou seja, o algodão orgânico é comprado um ano antes de virar tênis.

No início do ano, acertamos o preço do algodão assinando um contrato anual com os produtores. Dessa forma, os produtores sabem quanto vão ganhar com a colheita antes de plantar uma única semente. Este preço é relacionado ao mercado para garantir que os produtores possam viver decentemente e reinvestir em sua fazenda.”

Materiais ‘preferidos’ da Vert

A Vert considera PET reciclado, algodão orgânico, couro sem cromo, juta orgânica, CWL e algodão reciclado como materiais ‘preferidos’. E o algodão convencional é usado como suporte em alguns tecidos específicos.

B Corp 

“Decidimos realizar essa certificação para melhorar a Vert de várias maneiras.

Agora que a equipe da Vert é formada por mais de 150 talentos, o B corp é uma boa forma de testar a empresa na realidade. Levamos quase um ano para passar por todas as perguntas, e alguns pontos fracos apareceram. Por exemplo, a governança da Vert não é tão boa. Não há conselho, sem investidores e muitas decisões nas mãos dos 2 fundadores.

Portanto, a B Corp nos ajudará a conhecer e destacar nossa fraqueza como projeto e a criar metas e regras melhores. 

Mas ainda há um longo caminho a percorrer. E B Corp vai nos ajudar nessa jornada.”

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